o Felca, a Globo e as tretas
- Admin
- 6 days ago
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Tudo por amor ao teatro
A interpretação nunca se separa do entretenimento. É difícil para as pessoas entenderem isso — e assumirem seus papéis na arena de Dionísio. Ainda mais quando falamos de produção de conteúdo, esse novo teatro global onde nós — dos influenciadores aos espectadores — somos, ao mesmo tempo, atores, roteiristas e plateia.
Nos últimos dias, falaru que o Felca “vendeu a alma ao capeta” e foi para a Globo.
Muitas pessoas não entendem o essencial: a vida, quando levada a sério e vivida em sua totalidade, é sempre uma interpretação da humanidade. É o modo como eu decido ser um ser humano que vai dizer como eu vivo a minha vida. Parece simples, mas nao é.
O que define isso não é o que voce possui nem onde trabalha, mas como você interpreta a humanidade — se o faz como se houvesse Deus.
A arena de Dionísio é uma arena.
Sempre foi.

Quem leva o espírito a sério interpreta seu papel de ser humano com reverência, porque sabe que, além de tudo e acima de tudo, estamos num palco — e a peça é passageira.
O quanto você leva o espírito a sério determina a qualidade da sua interpretação.
spiritus vem do latim, é ligado ao verbo spirāre — soprar, animar — lembra o relato bíblico de Gênesis 2:7, quando Deus soprou nas narinas do homem o fôlego da vida, tornando-o ser vivente. (neshamah, em hebraico)
Há, porém, os que não entendem o jogo da arena de Dionísio. Não são guiados pelo espírito, mas pela carne. Não percebem que estamos aqui por um breve tempo e que algo de nós permanece depois da morte. Aquilo que persiste e é impossível de ser pesado, mas é inevitavelmente sentido.
Esses tendem a viver como se Deus não existisse — mesmo muitos deles estando dentro da igreja. Inclusive o lugar de onde a crítica ao Felca vem.
Já que ele se diz cristão.
Esses crentes vivem como se não pudessem se misturar com o resto, como se não pudessem estar cara a cara com o corrompimento, com a globo e com a miséria humana, nem com o fundo do poço, o fim do caminho.
Esses jamais experimentarão o máximo da vida como humanos, porque sempre se sentem superiores em algo — ainda que acusem justamente os outros disso.
Não como Nietzsche propõe, no sentido do Übermensch, aquele que se supera em sua humanidade, mas como quem a evita.
Por isso falamos tanto sobre o medo: quem tem medo de encarar o abismo, evita a vida.
Esses nunca enfrentarão aquele instante decisivo em que há duas opções: escolher a morte ou escolher a vida. Esse é o tema central da saúde mental — escolher ser saudável mentalmente é escolher a vida. É vestir a máscara e entrar na arena, entregue ao teatro da existência. É interpretar a própria humanidade por inteiro.
Como? Ah, isso ninguém pode te dizer. Porque o papel é seu. O destino é seu. O caminho é só seu. A cruz é sua. Nenhuma história é como a outra.
Quem já o trilhou pode te contar um pouco — mas nunca te substituir.
Por isso o teatro é tão profundamente humanizador.
As pessoas, no entanto, continuam esperando alguém que as ensine a viver. E quando a gente diz que Jesus o fez, elas não querem ouvir. Elas querem que Jesus as salve, não que Jesus as ensine.
Não há nada mais corajoso e incrível em um ser humano do que ele assumir o próprio destino — seja ele qual for. Viver o seu destino, e não o dos outros. Ser quem é, e não tentar ser outra pessoa.
Isso é assumir a vida nas mãos e tomar decisões. Isso é escolher viver.
E é justamente isso que transforma alguém em um ser humano interessante, inspirador, fan-tás-ti-co.
Lembro com clareza das interpretações magníficas da televisão brasileira — sim, da Globo. E de como ainda me encantam alguns atores de lá em suas entrevistas extremamente lúcidas. Quanta coragem, quanta densidade em suas histórias e destinos. Quantas vidas dentro de uma só vida.
Essas são as pessoas livres de julgamento, que respeitam quem escolhe viver — independente de quanto dinheiro há na conta bancária.
É por esses tantos brasileiros que estão sem nada na conta que elas estão ali.
Por amor à arena de Dionísio. Por amor ao entretenimento e por amor ao teatro.
Ah, mas há quem diga: “tem Bets, tem satanista, tem ritual, tem maldição, tem demônio.”
— “onde abundou o pecado, superabundou a graça.” (Romanos 5:20)
Há muito mais Deus para dar do que diabo para tirar.
Pode ir, Felquinha. Ficaremos aqui cuidando desse manicômio chamado YouTube.
Volte nos visitar sempre que der.

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